22/09/2019 às 08h52min - Atualizada em 22/09/2019 às 08h52min

Poluição no rio avança e ameaça Tietê

Trecho morto do manancial cresceu 33,6% e chegou a 163 quilômetros, com risco de impacto em toda sua extensão.

Portal Ternura
Maior e mais importante rio do Estado de São Paulo, o Tietê está cada vez mais ameaçado e acende alerta na região. Estudo divulgado na última semana pela Fundação SOS Mata Atlântica revelou que o trecho morto alcançou a marca de 163 quilômetros em 2019, um aumento de 33,6% em relação ao ano passado, quando a poluição se estendia por 122 quilômetros. O JC visitou o manancial, em Barra Bonita, onde a qualidade da água já passou a ser considerada regular.
Os dados preocupantes, que constam no relatório Observando o Tietê, vão na contramão dos esforços para conseguir trazer o rio de volta à vida (leia mais na página ao lado). Em 2010, por exemplo, a mancha de poluição era de 243 quilômetros e, em 2014, havia baixado para 71 quilômetros, o menor índice da série histórica do levantamento.
O retrocesso deste ano merece um alerta a mais neste domingo (22), quando se comemora o Dia do Tietê, já que, além de ser fundamental para a economia e abastecimento de dezenas de cidades paulistas, o manancial também abriga importante biodiversidade em seus 1.100 quilômetros de extensão.
"A região metropolitana de São Paulo, desde sempre, foi o grande problema, dado o crescimento industrial e populacional. É uma região que está próxima à nascente e que gera impacto até onde estamos. Em Barra Bonita, por exemplo, a qualidade da água já é considerada regular e não boa (confira no quadro abaixo)", pontua Hélio Palmesan, presidente-executivo da ONG Mãe Natureza, sediada em Barra Bonita.
É considerada trecho morto a parte do rio que apresenta Índice de Qualidade da Água (IQA) classificado como ruim ou péssimo. O indicador é obtido por meio da soma de parâmetros físicos, químicos e biológicos encontrados em amostras de água.
SEM VIDA
No trecho morto, concentrado na região metropolitana, não há condição de vida para peixes e a água não pode ser usada para lazer, irrigação ou consumo. Já na faixa considerada regular, é permitido o uso da água para abastecimento público, irrigação para produção de alimentos, pesca, atividades de lazer, turismo, navegação e geração de energia.
"Normalmente, aqui na nossa região, o nível de oxigênio do Tietê é de 4mg/l ou 6mg/l, bom ou excelente. Mas, quando chove forte em São Paulo, 72 horas depois, os níveis caem para 1 mg/l ou menos de 1mg/l. É algo grave", observa Palmesan, que acompanhou o JC por um passeio no trecho do rio nesta sexta-feira (20).
O levantamento indicou que a condição ambiental do Tietê está imprópria ao uso, com qualidade da água ruim ou péssima, em 28,3% dos 576 quilômetros de extensão monitorada - que vai da nascente em Salesópolis, na Serra do Mar (a 22 quilômetros de distância do oceano Atlântico) até Barra Bonita.
O avanço da mancha, segundo o relatório, reflete os impactos da urbanização intensa, da falta de saneamento ambiental, da perda de cobertura florestal, da insuficiência de áreas protegidas e do baixo registro de chuvas neste ano, que fez com que o rio diminuísse a capacidade de diluir poluentes e se recompor. No outro extremo, temporais atípicos em fevereiro e julho também causaram prejuízos, resultando na necessidade de abertura de barragens, com exportação de enorme carga de poluição, sedimentos e resíduos sólidos para toda a extensão do manancial.
Desde sua nascente, em Salesópolis, até a cidade de Itapura, onde deságua no Rio Paraná, o Tietê passa por 70 municípios paulistas. Em sua maioria, são cidades cujas economias dependem em grande proporção das oportunidades que vêm do rio.
É o caso da pescadora Irene Pereira de Miranda, 51 anos, há 25 tirando seu sustento do manancial. Moradora de Barra Bonita, ela conta que, num passado recente, costumava pescar 500 quilos diários de peixe. Hoje, com a ajuda do filho Bruno Miranda, 28 anos, não retira da água mais de 50 quilos por dia.
"Há 15 anos, a gente atingia essa cota máxima, de 500 quilos, muito rapidamente, em três, quatro horas. E, se o peixeiro deixasse, chegávamos a 900 quilos. Agora, para pegar 50 quilos, tem que trabalhar muito mais. A gente começa às 4h e só para ao meio-dia", revela.
Apesar das dificuldades trazidas pelo processo de poluição do Tietê, Irene diz que nunca pensou em buscar outra fonte de renda. "Se me dessem uma quantia milionária para eu parar de pescar, eu não aceitaria. Esse rio é minha vida", completa.
Não faz tanto tempo, historicamente falando, que o Tietê se transformou em um "rio sólido" na Grande São Paulo. Embora já houvesse indústrias despejando rejeitos no manancial nas décadas de 1920 e 1930, o Tietê ainda era utilizado para pesca e atividades esportivas pelos paulistanos. Nesta época, inclusive, clubes de regatas e natação foram criados ao longo do manancial.
A degradação por poluição industrial e descarte de esgoto doméstico só veio a se intensificar durante o processo de industrialização e expansão urbana desordenada, ocorrido nas décadas de 1940 a 1970. "Hoje, nosso desejo é de que o Tietê volte a ser um rio com padrão único, com qualidade boa a ótima em toda sua extensão. Meu sonho é que ele ficasse parecido com o Tâmisa, que é cartão-postal de Londres", projeta Hélio Palmesan, citando o rio inglês, que demandou quase 120 anos de investimento para a despoluição de suas águas.
Fonte: Jornal da Cidade
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://portalternura.com.br/.