Foto: Divulgação
Até o dia 26 de agosto acontece em Ibitinga (SP) os festejos em louvor ao Padroeiro Senhor Bom Jesus. Neste ano de 2018, comemora-se 152 anos da chegada da imagem a Ibitinga.
Nesta segunda-feira, dia 6 de agosto é feriado municipal, e às 18h30min acontece a procissão e Missa ao Padroeiro na Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus, com a benção do Bolo do Padroeiro.
FESTA DO PADROEIRO
Os festejos ao Padroeiro contam com o trabalho e organização dos Ministros da igreja Matriz do Senhor Bom Jesus, e terá uma grande "Ação entre Amigos" no valor de R$ 5 mil no sábado, dia 11 de agosto, com início após a Santa Missa, com início às 19 horas.
Para encerrar, no domingo dia 26 de agosto, às 10 horas da manhã, acontece uma Leilão de Gado na Fazenda Santa Angélica do saudoso Senhor Felício Trevisan.
Toda a renda dos festejos ao Padroeiro Senhor Bom Jesus será em prol do Lar São Vicente de Paulo e Causa Servo de Deus Nelsinho Santana.
CONHEÇA A HISTÓRIA DA VINDA DA IMAGEM PARA IBITINGA
SENHOR BOM JESUS
1866 – 2016
150 anos da chegada da Imagem do Padroeiro à Ibitinga
Ibitinga, a “Capital Nacional do Bordado”, tem como patrono de sua fundação Miguel Pereira Landim, homem simples e religioso, falecido e sepultado na cidade em 19 de agosto de 1890, aos 74 anos de idade.
Em 1842, Miguel partiu de Santo Antonio do Machado, no estado de Minas Gerais, junto com Pedro Alves de Oliveira, o ‘velho Amaro’, em uma grande caravana, com familiares e agregados de ambos, em busca de terras para se fixar e se dedicarem à agricultura.
Depois de 14 anos trabalhando juntos nas terras do casal José Antonio de Castilho e Ana Claudina do Sacramento, nos Campos de Araraquara, Pedro e Miguel se separaram. Precisamente em 02 de Maio de 1856, o ‘velho Amaro’ comprou terras do casal onde, com seus familiares, ergueu um arraial batizando-o de Boa Vista das Pedras, depois Espírito Santo do Córrego das Pedras e hoje Itápolis.
Miguel Landim e os seus familiares seguiram em busca de outras terras para iniciar um vilarejo. Depois de uma frustrada ocupação na região da Cachoeira da Wamicanga, devido aos ataques de índios e da febre palustre, saíram e vieram instalar-se às margens do Córrego São Joaquim, nas proximidades da foz do riacho Saltinho, onde dividiu com os irmãos, nomeou e ocupou a terra.
Miguel Pereira Landim ficou na Água Quente; Alferes Ângelo Pereira Landim no Monte Alegre; João Pereira Landim no Capim Fino e Francisco Pereira Landim na Cana do Reino.
Nas terras da Fazenda Água Quente, Miguel fundou a povoação da Capela da Água Quente em cujo centro demarcou uma praça, o “Largo Municipal” (atual Praça Jorge Tibiriçá), onde ergueu uma Capela para seu santo de devoção, o Sr. Bom Jesus.
(Conforme registro fotográfico de 1905, essa Capela localizava-se no lado ímpar da Rua Dr. Teixeira próximo a Rua José Custódio (nomes atuais dessas ruas).
A partir daí o lugarejo passou a ser chamado de povoado do Senhor Bom Jesus de Ibitinga.
De acordo com relatos feitos para o Padre José Raphael Bouillon, que foi pároco da Igreja Matriz entre 1921 e 1947, pelas senhoras Maria Joaquina do Espírito Santo, esposa de Custódio José Landim e Vitalina de Jesus, falecida com 112 anos de idade, em junho de 1937, Miguel Landim quando fora acometido pela malária havia feito uma promessa a seu santo de devoção, de oferecer à Capela uma imagem do Senhor Bom Jesus, com o seu tamanho.
No início de 1866, durante uma viagem à Piracicaba, Miguel Landim soube de uma imagem com essas proporções, vista no Forte de Itapura, uma colônia militar construída pelo governo imperial do Brasil em 1858, na margem esquerda do Rio Tietê, próximo à sua foz no Rio Paraná, a qual o acesso era difícil e apenas pelo rio.
(A colônia militar de Itapura foi abandonada após a Guerra do Paraguai transformando-se em ruínas. Em sua redondeza formou-se a cidade de Itapura que na década de 1960 foi inundada, por ocasião da inauguração da Usina Hidrelétrica Engº Souza Dias – Jupiá, quando uma nova Itapura foi edificada)
De volta à Ibitinga, Miguel Landim compartilhou com os familiares a intenção de resgatar a imagem abandonada na colônia militar, para colocá-la no altar da capela em Ibitinga. Embora não tenha participado, em função da saúde debilitada, Landim organizou uma canoada com esse fim, confiada a “Nho João”, órfão criado como filho por Miguel e sua esposa, Ana Custódio de Jesus.
(João era filho de João Velho, morto por picada de cobra e Quitéria, que era ama na residência de família de posses em Santo Antonio do Machado. Mas quando ela veio a adoecer e morrer, a família não quis ficar com o encargo de criar o garoto de muito pouca idade, magro e de pele escura. A incumbência foi aceita por Miguel e dna. Ana que não tiveram filhos e o criaram desde criança. Ele acompanhou seus padrinhos, na aventura pelas terras paulistas até Ibitinga)
Sob as ordens de “Nhô João”, homem acostumado à lida e a luta, a canoada partiu do Porto das Monções, descendo cautelosamente e em silêncio as águas do Rio Tietê. A cautela era necessária devido as caudalosas águas do rio. Viajavam por locais que ainda eram selva correndo risco de ataque pelos animais selvagens, como também de índios que habitavam a região.
A espera pelo retorno da expedição demorou mais de um mês. A viagem de volta foi mais difícil por se tratar de remar rio acima, um grande esforço contra as águas na subida do rio. Apesar dos perigos, retornaram sãos e salvos e trouxeram a tão desejada imagem, embrulhada em panos e escondida no fundo do barco.
Avisado da chegada, Miguel Landim os recebeu nas Monções e ao ver a imagem talhada em madeira, um belo trabalho de autor desconhecido, sentiu sua promessa prestes a ser cumprida. Uma grande festa em honra de seu padroeiro foi preparada e um manto tecido por dona Ana, sua mulher, e suas cunhadas. Para evitar uma reivindicação pelo retorno da imagem ao Forte de onde viera, escolheram deixá-la abrigada na casa do irmão de Miguel, Alferes Ângelo Pereira Landim, na Fazenda Monte Alegre, até o dia 06 de Agosto, data reservada pela Igreja Católica para prestar homenagem ao Senhor Bom Jesus.
Na data escolhida, 06 de Agosto de 1866, uma longa procissão conduziu a imagem ao povoado, tendo Miguel Landim à frente do cortejo, formado pelos moradores do lugar. Ele ia empunhando a bandeira do Divino, a mesma que o acompanhava nas cavalgadas religiosas da Festa de Reis, realizada em 06 de janeiro.
Os homens do vilarejo se revezavam na tarefa de conduzir a imagem, no alto de um andor enfeitado de flores silvestres, até a singela Capela, onde foi entronizada e, segundo os relatos, rezada uma missa em honra ao Senhor Bom Jesus, com a presença de todos os devotos.
O festejo foi muito significativo para os habitantes da pequena comunidade, praticamente considerado a fundação de Ibitinga, lugarejo que eles estavam edificando há quase uma década.
Mais tarde, em 03 de outubro de 1.870, Miguel Landim e a esposa Ana Custódio de Jesus, doaram para a Mitra Diocesana um quarto de légua em quadro (região correspondente ao atual centro da cidade), para construção de uma Igreja maior que a antiga capela.
Projeto do arquiteto italiano, radicado em Ibitinga, Rosalbino Tucci, a Igreja foi entregue para a população em 20 de janeiro de 1.914, em solene procissão onde a imagem do Senhor Bom Jesus foi transladada da Capela dos Landim para o altar da Igreja Matriz, onde está até hoje.
(Essa história foi transcrita e publicada nas revistas Terra Branca (de 1929) e Ibitinga (de 1.944), nas quais Padre Bouillon foi redator de coluna religiosa. Depois, essas informações foram reeditadas na revista Ibitinga - Sua gente, Suas coisas (de 1.971). Todas editadas pelo Jornal “O COMÉRCIO” (13/06/1914 – 22/12/2001))
Em 20 de abril de 1.885, o povoado foi elevado à categoria de Distrito de Paz, pela Lei Provincial nº 105 e, alguns meses depois, em 11 de Março de 1.886, foi criado o Curato do Senhor Bom Jesus de Ibitinga, por provisão de D. Lino Deodato Rodrigues, Bispo de São Paulo, do Conselho de Sua Majestade o Imperador.
Em Dezembro de 1.887, houve a elevação do Curato de Ibitinga para Paróquia do Senhor Bom Jesus de Ibitinga.
Em termos civis, segundo as leis do Brasil após a Proclamação da República, em 04 de Julho de 1890 a cidade recebeu sua emancipação político-administrativa e tornou-se o Município de Ibitinga. E, desde 24 de Dezembro de 1992, através da Lei nº 8.199 da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, foi transformado em Estância Turística de Ibitinga.
De origem tupi-guarani, Ibitinga significa Terra Branca | IBI - Terra e TINGA – Branca.
Autoria: Elza de Lima Gonçalves Racy
Historiadora registro nº 66.490-LP
Jornalista registro nº 40731/SP