23/09/2020 às 14h36min - Atualizada em 23/09/2020 às 14h36min

Ibitinguense desenvolve pesquisa sobre comportamento de aves que constroem ninhos em prédios

Augusto Batisteli desenvolveu pesquisa em parceria com mais oito pessoas da UNESP, UFSCar e Universidad Nacional del Sur.

Portal Ternura
Grupo de pesquisadores realizou um estudo sobre o comportamento das aves que constroem ninhos em espaços artificiais. Foto: Reprodução/Augusto Florisvaldo Batisteli
 
O ibitinguense Augusto Florisvaldo Batisteli é formado em Ciências Biológicas, mestre em Ciências Ambientais e doutor em Ecologia e Recursos Naturais. Desde pequeno, o biólogo já mostrava seu amor por animais, especialmente aves.
Augusto contou ao Portal Ternura que desde pequeno via seu pai criando pássaros, o que o influenciou bastante a gostar da área, e sua mãe sempre incentivou seus gostos. Desde a época do colegial, sabia que queria estudar Biologia - e foi o que fez. Para ele, seria uma forma de aprofundar o que já vivia no cotidiano.
Recentemente, ele participou do desenvolvimento de uma pesquisa que estudou o comportamento das aves durante o período de incubação, tendo como ponto principal a construção de ninhos em locais artificiais como postes, telhados, portas e janelas.
Uma das primeiras observações foi que, em muitos casos, apesar de existirem ambientes naturais com grande número de árvores nas proximidades, as aves ainda optavam por construir seus ninhos nos ambientes artificiais.
Tendo em vista que esse é um campo pouco estudado dentro da ornitologia, ainda que muito comum, Augusto decidiu pesquisá-lo mais a fundo.
Ao todo, a pesquisa foi desenvolvida por oito pessoas além de Augusto, sendo elas: Leonardo Beraldo de Souza (biólogo pela UNESP), Isadora Zavan Santieff (bióloga pela UFSCar), Guilherme Gomes (doutor pela UNESP), Talita Pereira Soares (bióloga pela UFSCar), Marianela Pini (bióloga pela Universidad Nacional del Sur), Rhainer Guillermo-Ferreira (Prof. Dr. pela UFSCar), Marco Aurélio Pizo (Prof. Dr. pela UNESP) e Hugo Sarmento (Prof. Dr. pela UFSCar).
O ibitinguense explicou que, hoje em dia, é muito difícil produzir pesquisas científicas de grande relevância sem a colaboração de outros pesquisadores. Sua tese foi orientada pelo professor da UFSCar e co-orientada pelo professor da UNESP de Rio Claro. “Diversos alunos de graduação participaram muito diretamente dessas investigações, que inclusive contemplaram outros dois trabalhos de conclusão de curso em Ciências Biológicas”, complementou Augusto.
Para auxiliar, a estudante da Universidad Nacional del Sur, que estava fazendo intercâmbio no Brasil, colaborou nas pesquisas referentes ao comportamento das fêmeas.
Sábia-barranco: a ave escolhida

Sabiá-barranco foi escolhido por construir seus ninhos tanto em áreas naturais quanto em áreas urbanas, o que facilitou a comparação. Foto: Reprodução/Augusto Florisvaldo Batisteli
 
Para iniciar a pesquisa, foi necessário escolher uma ave, e o sabiá-barranco foi o prestigiado. O biólogo explica que a escolha foi feita devido ao pássaro ser encontrado em abundância na região onde o estudo foi desenvolvido e também porque apresentam comportamentos semelhantes a outras espécies de sabiás em outros países e continentes. Além disso, essa espécie é bem tolerante à urbanização e constrói seus ninhos em árvores e casas.
Segundo o biólogo, “em estudos de ecologia comportamental, geralmente escolhemos uma espécie como modelo porque é inviável estudar muitas delas ao mesmo tempo, mas as conclusões servem para outras espécies com características parecidas”.
Durante o doutorado, ele registrou outras 20 espécies de aves além do sabiá-barranco que também constroem seus ninhos em prédios, sendo os mais comuns o sabiá-poca (Turdus amaurochalinus), o sanhaçu-cinzento (Thraupis sayaca), e pombas como o pombão ou asa-branca (Patagioenas picazuro) e a avoante (Zenaida auriculata).
No entanto, como o pesquisador afirma, nem todas as espécies apresentam esse comportamento, até porque muitas não achariam alimentos no perímetro urbano e outros recursos que necessitam para sobreviver.
E apesar de algumas construírem seus ninhos em prédio, é necessário que haja bosques e outras áreas verdes ao redor do local. “Por isso é importante pensarmos no planejamento urbano, para que as cidades cresçam mas que permitam que o maior número possível de espécies ainda encontre ali um território para existir e reproduzir”, complementa o biólogo.
Locais observados
A primeira parte do estudo, sobre a temperatura dos ninhos, foi realizada em Rio Claro, enquanto a parte de observação do comportamento das fêmeas foi realizada em São Carlos. “No caso do nosso estudo, nós consideramos a temperatura dentro do ninho, fora do ninho, e a temperatura atmosférica também, para saber como a fêmea se comporta em diferentes cenários”, afirma o pesquisador.
Sendo assim, a aplicabilidade do estudo é válida em outras localidades do país, ainda que haja diferenciação de temperatura, de tamanho das cidades e do tipo de urbanização.
Durante a realização da pesquisa, os envolvidos constataram que os ninhos em ambientes artificiais são, em média, seis graus mais quentes que os encontrados em árvores, isso porquê geralmente estão apoiados e cercados de materiais, que auxiliam a regular a temperatura interna. Por conta disso, as fêmeas passam cerca de uma hora a menos por dia em seus ninhos durante o processo de incubação.
Ambientes artificiais influenciam a fêmea a ficar cerca de 1 hora a menos por dia em seu ninho. Foto: Reprodução/Augusto Florisvaldo Batisteli
 
Encontrei um ninho em um prédio. E agora?
Ao encontrar pássaros construindo ninho em um prédio, ou com ele já construído, a primeira recomendação, segundo Augusto, é não perturbá-los. As aves silvestres e seus ninhos são protegidos por lei.
O biólogo também diz para as pessoas aproveitarem o privilégio de poder acompanhar um dos comportamentos mais sofisticados da natureza para abusar de fotos e vídeos, sempre respeitando uma distância para não interferir no comportamento dos pais. “Está em fase de análise um projeto para que a gente possa criar um portal para receber essas fotos e vídeos, informando as pessoas que quiserem saber qual a espécie e ter mais detalhes sobre a reprodução delas”, finaliza.
Outras espécies de pássaros também costumam construir ninhos em prédios. Na imagem: Pombão/Asa Branca, Avoante, Sabiá-Poca e Sanhaçu-Cinzento. Fotos: Reprodução/Augusto Florisvaldo Batisteli
 
Continuidade
Quando perguntado se a pesquisa terá continuidade, Augusto respondeu que sim. De acordo com ele, “o intuito da tese era mostrar que há algo complexo por trás de um simples ninho na janela. (...) É o primeiro estudo a mostrar que há diferenças de comportamento se os ninhos estão em prédios ou em árvores”.
O biólogo explica que inauguraram um novo campo de estudos no qual os pesquisadores e cientistas dos mais diversos locais poderão se aprofundar. No futuro, ele espera ter mais respostas para entender melhor se esse tipo de comportamento pode fazer mal para essas espécies de ave a longo prazo, criando uma dependência dos prédios para construírem seus ninhos, por exemplo.
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