Veja o vídeo na íntegra:http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2016/12/jovem-recebe-rim-de-mulher-que-conheceu-em-trabalho-voluntario.html
Após 10 anos aguardando na fila por um doador de rim, Aline Sampaio Veloso, de 26 anos, recebeu o órgão que precisava de uma mulher que conheceu durante um trabalho voluntário em um abrigo em Ibitinga (SP) que abriga 22 crianças. Aline visitava o orfanato aos fins de semana com um grupo que passava as tardes de domingo contando histórias infantis. Já Janaína acompanhava voluntários de uma igreja que estavam ajudando da reforma no prédio.
Jovem conheceu doadora durante trabalho
voluntário (Foto: Reprodução/TV TEM)
Aos 11 anos Aline descobriu que tinha lúpus, uma doença que faz com que o próprio organismo ataque o sistema de defesa. Mas Janaina Nogueira Bastos só soube do problema de Aline através de uma amiga.
"Eu falei enquanto tantas pessoas se escondem atrás de qualquer coisa, qualquer problema, a Aline com todo problema que tem está sempre à frente, querendo ajudar assim, coração incrível. A Janaina perguntou o que Aline tinha porque ela passou a tarde toda junto com a Aline e nem percebeu que ela fazia hemodiálise todos os dias”, lembra a empresária Sueli Catarin, que apresentou as novas amigas.
Janaína se comoveu com a história. “Eu liguei para Aline falei meu nome é Janaina, fiquei sabendo da sua história e por uma coincidência ou um mover de Deus, o nosso sangue é o mesmo. Eu gostaria de doar meu rim pra você”, conta Janaina.
Na primeira conversa sobre o assunto, apesar da disposição de Janaína, Aline não se empolgou. “Eu aprendi a ser muito racional. Todos os médicos falavam não, 10 anos esperando, então eu não tinha mais esperança.”
Voluntários festejaram sucesso do transplante (Foto: Reprodução/TV TEM)
Mas depois de muitos testes, elas receberam a notícia tão esperada. “O médico falou: parabéns, ela é compatível.” A partir de então, elas fizeram muitas viagens para São Paulo, onde Aline era atendida por uma equipe médica especializada em transplante de rim.
Janaína queria ser doadora de Aline
(Foto: Reprodução / TV TEM)
Apesar do teste de compatibilidade dar positivo, mesmo sem elas terem nenhum parentesco, elas precisaram da decisão da Justiça para realizar o transplante. "A lei diz que os indivíduos que não são parentes ou que não são casados precisam de uma autorização judicial. A lei tenta preservar que não tenha comércio de órgãos. Então a gente faz a avalição de pessoas não parentes, de uma forma mais extensa possível, avaliação psicológica, avaliação social, avaliação com gente experimentada para ver se tem só o altruísmo ou se existe algum outro interesse e se a gente percebe que só se tem altruísmo, a gente faz todos os processos legais e por fim , pede autorização do juiz”, explica o médico nefrologista Elias David Neto.
Sucesso
Assim que o transplante foi realizado, Janaína se emocionou ao contar que tinha sido um sucesso. “Estou muito feliz porque o rim está funcionando na Aline. Estou sentindo muito a presença de Deus aqui. É como se Ele tivesse todo o momento com a gente lá no centro cirúrgico, no quarto. Eu estou muito feliz , muito feliz mesmo, principalmente porque deu certo. Aline até está fazendo xixi, está funcionando perfeito.
Por causa da paralisação dos rins, Aline teve que fazer diálise por mais de dez anos. Nos últimos meses antes do transplante ela ficava conectada a uma máquina que filtrava o sangue dela, durante todo período em que dormia. Conseguir urinar, graças ao novo órgão foi uma emoção para Aline. “A primeira vez que eu fiz xixi lá no hospital eu chorei porque eu não estava fazendo. Foi uma coisa estranha, que não dá pra explicar a felicidade que me deu. Acho que esse foi o momento crucial. Foi o momento que eu falei: agora deu certo.”
Novo emprego
Janaína já voltou à rotina da vida em Ibitinga, mas devido ao período que passou fora da cidade para fazer os exames, ela perdeu o emprego que tinha. Mas se uma porta se fechou, muitas outras se abriram. As duas viraram sinônimo de solidariedade. A história delas ganhou destaque na cidade. Já que Janaína estava sem emprego, a radialista Daniela Branco de Rosa resolveu dar uma chance à doadora na rádio. Agora ela trabalha na recepção e atende os ouvintes que vem pessoalmente e aqueles que enviam cartas pedindo algum tipo de ajuda.
Janaína, Daniela, Aline e Giuliano. História ganhou destaque nacional pela importância da solidariedade. Foto: Portal/Arquivo
"Recebemos muitas cartas de pessoas da cidade aqui na recepção das rádios. A gente se comove porque são problemas e mais problemas, muitos relacionados à saúde e ao mesmo tempo falta de comida, do próprio alimento e situações básicas no nosso dia a dia, e ela (Janaína) se encontrou. Ela monta grupos no whatsapp para tentar buscar ajuda, além da divulgação que realizamos nas emissoras", conta Daniela.
Cirurgia deixou marcas em doadora e receptora
(Foto: Reprodução/TV TEM)
Marcas na vida
Apesar da medicação que Aline ainda precisa tomar, ela conta que o transplante de rim foi o que melhor aconteceu na vida dela. “Só de não ter que ficar ligada em uma máquina durante nove horas, já é uma vitória. Independente dos sintomas, da viagem, de não poder beber líquido, não poder se alimentar direito. Agora eu estou livre, não tenho mais nada dela em casa. Só as cicatrizes.”
Cicatrizes que as duas levarão por toda vida. "Depois do transplante, quando eu cheguei no quarto foi uma das experiências mais lindas que eu tive com Deus. Então foram momentos que vão marcar a minha vida, fora a minha cicatriz que eu falo que é a minha medalha de ouro, é o meu legado para os meus filhos. Eu quero que meus filhos lembrem de mim com esse ato”, diz Janaina.
“O que eu deixo pra pessoas é ter fé, não desistir. Você é capaz. Eu teria todos os motivos pra dar desculpa pra não fazer nada, pra ficar me lamentando, reclamando, mas logo já estou trabalhando de novo, já estou na ativa com as crianças de novo”, afirma Aline.
Amigas registraram todo o processo pré-transplante (Foto: Reprodução/TV TEM)
Fonte: G1