14/10/2023 às 19h17min - Atualizada em 14/10/2023 às 19h17min

Padre é suspeito de roubar hospital dos pobres para comprar imóveis de luxo

Portal Ternura
O padre Egídio de Carvalho Neto, 56, está sendo investigado por suspeita de desviar recursos que deveriam ser destinados ao hospital Padre Zé, que atende pelo SUS em João Pessoa. O suspeito teria usado o dinheiro para comprar imóveis e bens de luxo e pagar despesas pessoais como viagens.
O pároco era diretor-presidente do hospital e foi afastado do cargo e das funções eclesiais. Ele responde a processo canônico, que pode resultar em sua expulsão da Igreja Católica.
O QUE ACONTECEU?
Investigadores foram a imóveis de luxo que teriam sido adquiridos com dinheiro desviado do hospital e que deveriam ajudar no atendimento à população pobre que depende do SUS na Paraíba. A força-tarefa coordenada pelo MP-PB (Ministério Público da Paraíba) realizou a operação Indignus, no último dia 5, que cumpriu 11 mandados de busca e apreensão expedidos pela 4ª Vara Criminal da Capital.
Os recursos também foram usados na compra de ao menos um carro de luxo. E também para bancar viagens e adquirir produtos e serviços pessoais de altos valores, segundo a denúncia que chegou ao MP e que deu origem à investigação.
A direção do hospital composta por 12 pessoas foi afastada das funções, no final do mês passado, pelo Arcebispado de João Pessoa.
Outras acusações: a nova direção acusa a gestão do padre de ter tomado empréstimos de R$ 13 milhões sem explicação e deixado uma dívida de R$ 3 milhões (leia detalhes mais abaixo)
OPERAÇÃO CONTRA O PADRE
O MP-PB informou que investiga fraude com "desvios de recursos públicos destinados a fins específicos, por meio da falsificação de documentos e do pagamento de propinas a funcionários vinculados às entidades investigadas".
O padre e outros membros da diretoria são suspeitos de: organização criminosa, lavagem de capitais, peculato e falsificação de documentos públicos e privados.
“[A investigação] aponta para uma absoluta e completa confusão patrimonial entre os bens e valores de propriedade das referidas pessoas jurídicas com um dos investigados [padre Egídio], com uma considerável relação de imóveis atribuídos, aparentemente sem forma lícita de custeio, quase todos de elevado padrão, adornados e reformados com produtos de excelentes marcas de valores agregados altos.”

Hospital Padre Zé em João Pessoa
O UOL procurou o MP, mas o promotor e chefe do Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado), Octávio Paulo Neto, informou que o caso corre em segredo de justiça e que não iria conceder entrevista nesse momento.
O advogado do padre Egídio, Sheyner Asfora, foi procurado pela coluna na quarta-feira (11), mas não retornou a mensagem. O texto será atualizado em caso de manifestação.
DINHEIRO PARA COMPRAR COBERTURA
A denúncia que chegou ao MP-PB, a qual o UOL teve acesso, foi enviada junto a 33 documentos e notas que comprovariam o desvio de verba.
Um dos imóveis de luxo citados é uma cobertura à beira-mar na praia do Cabo Branco, que seria o local onde o padre mora. Segundo a denúncia, ela foi comprada com "600 mil reais entregues em mãos pela funcionária, com verbas da Ação Social Arquidiocesana e do hospital."
"Foi emitida nota fiscal fria de alimentos e insumos para prestação de contas, para custear essa parte de pagamento", diz a denúncia.

NOVA DIREÇÃO CITA EMPRÉSTIMOS
O hospital Padre Zé é uma referência em serviço de saúde gratuito em João Pessoa e atende cerca de 18 mil pessoas por ano em diversas áreas. A nova direção do hospital, que assumiu no dia 25 de setembro, é presidida pelo padre George Batista.
O padre Batista afirma que se deparou com dois empréstimos feitos pela gestão anterior em um total de R$ 13 milhões. Elas geram hoje parcelas mensais pagas em torno de R$ 250 mil, que comprometem os serviços ofertados na unidade.
“Para onde foi esse dinheiro? A força-tarefa está investigando e, no tempo devido, vai se pronunciar.” - Padre George Batista
O novo diretor explicou ainda, em entrevista coletiva na última terça-feira, que o hospital precisa de R$ 1,3 milhão para se manter mensalmente. Como recebe, em média, entre R$ 900 mil e R$ 1 milhão do SUS, vive de doações para completar o valor.
“Nossa luta agora é para exorcizar todas as pessoas que colaboraram com esse crime. Vamos criar uma estrutura de fiscalização, descentralização do poder do presidente do hospital, acabar com reeleição e fazer com que a sociedade participe de maneira mais ativa.”  - Padre George Batista
O Arcebispo de João Pessoa, Dom Manoel Delson, disse que chegou a conversar duas vezes com o padre Egídio: a primeira quando houve uma denúncia de celulares furtados do hospital, e a segunda após o início das investigações do MP, pedindo para que ele se afastasse da ASA (Ação Social Arquidiocesana), do hospital e da paróquia.
Ele disse que só soube da suspeita após ela ser divulgada na imprensa.
“Sensação [é] de choque, de vergonha. Me sinto traído porque foi preparado para anunciar o evangelho, testemunhar a fé, para estar a serviço dos mais pobres. Ele passava segurança, de que as coisas vinham funcionando. É uma tristeza muito grande que um sacerdote de Deus tenha se envolvido numa coisa dessa natureza.” - Dom Manoel Delson
Processo canônico será enviado ao Papa Francisco, no Vaticano. "Vamos juntar toda documentação e apresentar ao santo padre [papa] o que for concluído. Vamos aguardar, mas se for confirmado [crime], acredito que ele [padre Egídio] será demitido."
Fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/carlos-madeiro/2023/10/14/padre-suspeito-desvio-hospital-joao-pessoa.htm
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