Mesmo a cidade de Ibitinga (SP) tendo notória ineficiência no transporte coletivo, falta de médicos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e nas unidades de saúde, falta de remédios na rede pública, falta de vagas nas creches e até falta de iluminação pública, a Prefeitura tenta, a todo custo, passar um projeto milionário na Câmara Municipal para a compra de um novo cemitério.
A proposta de aquisição de um novo ‘espaço’ sequer chegou à Câmara em forma de projeto. Desde janeiro, a Prefeitura de Ibitinga começou a articular, junto aos vereadores, a compra de uma área para instalação de um cemitério, que segundo o secretário responsável, há escassez de carneiras no atual.
A partir disso, duas ofertas foram propostas: o Cemitério Recanto da Paz, na Vila dos Bancários, e/ou aquisição do terreno aos fundos do cemitério atual. No caso do cemitério construído no jardim dos Bancários, entre a terra nua, construção (velório) e 180 carneiras prontas, o projeto prevê um valor de aproximadamente R$ 5 milhões. Já a área aos fundos do cemitério (somente terra nua) a proposta gira em torno de R$ 4,7 milhões.
A Chefe do Executivo chegou a fazer várias reuniões, dentro e fora da Prefeitura. Até na sede da Câmara dos Vereadores se dispôs a ir e assim o fez para convencer os vereadores a aprovarem o Projeto que aparentemente, ingressaria na Casa de Leis, em Regime de Urgência, sobre a “necessidade” da compra.
SESSÃO COM SECRETARIADO E EXPLANAÇÕES
Na Sessão Ordinária desta terça-feira (14) na Câmara Municipal, o Vice-Prefeito, Frauzo Ruiz Sanches, os secretários Bernadete Maria Senise (Habitação), Claudio Alcalá Moreira (Trânsito) e o servidor do cemitério Rodinei de Traque, usaram da Tribuna para tentar, novamente, convencer os vereadores.
Inicialmente o vice-prefeito Frauzo falou sobre o cemitério atual, a quantidade de carneiras, a recuperação por chamamento de jazigos antigos e a falta de espaço para os sepultamentos. Em seguida, a secretária Detinha falou sobre questões técnicas e apresentou as duas áreas para possível aquisição, dando claras evidências sobre as facilidades ofertadas mais pelo Cemitério 'Recanto da Paz' do que o terreno em terra nua localizado entre os Jardim Maria Luiza I e Residencial Ibitinga III.
Porém, o que chamava muito a atenção aos olhos de alguns internautas que assistiam à sessão, era o plenário lotado de Secretários Municipais, que notoriamente haviam sido convocados a estarem lá, no intuito de fortalecer a explanação de aquisição das propostas. A prefeita não estava presente.
Secretários municipais foram convocados a participar da sessão e fortalecer a proposta de compra do cemitério. Foto: Arquivo pessoal
Ainda durante uso da Tribuna, o Secretário Claudio Moreira finalizou a apresentação comentando sobre o acompanhamento que vem sendo realizado no atual Cemitério e as mudanças que foram feitas nos últimos meses, na busca de do suporte necessário ao local. O servidor Rodinei não chegou a usar a tribuna.
Vídeo: Divulgação/Câmara Municipal de Ibitinga
Após a explanação, os vereadores fizeram questionamentos sobre o assunto, indagando inclusive outras possíveis áreas, de menor investimento e maior economicidade no uso do dinheiro público. Dentre os vereadores Daniela Branco de Rosa, Ricardo Prado e Célio Aristão, o Edil Marco Fonseca narrou sobre questões ligadas ao espaço do cemitério atual e um investimento que não necessita de ..‘tanta urgência assim’.
Vídeo: Divulgação/Câmara Municipal de Ibitinga
Após a tribuna pelas autoridades, o espaço foi dado ao cidadão João Stanzani. Ele, que por quase 16 anos, esteve à frente na Presidência do Clube dos Bancários de Ibitinga – o CBI, e também solicitou o uso da tribuna para expor a questão Cemitério X Meio Ambiente” junto ao manancial presente naquela área dos Bancários, poucos metros do cemitério existente no bairro.
Na época, Stanzani acompanhou toda a negociação da área do cemitério, extraída das terras pertencentes ao CBI por uma dívida trabalhista. O clube adquiriu a área da Paróquia Senhor Bom Jesus para fazer um Parque Aquático, tendo em vista a abundância de água que existe no local. Água que aliás, é a principal abastecedora de Ibitinga, através do poço denominado ‘CBI’.
Vídeo: Divulgação/Câmara Municipal de Ibitinga
Quanto vale um alqueire?
Hoje, o alqueire de terra (24,2 mil metros quadrados) é negociado na região de Ibitinga entre R$ 200 mil a R$ 250 mil (zona rural). Na zona urbana, considerada área de interesse para loteamentos e empreendimentos, o valor comercializado varia de R$ 500 mil a R$ 800 mil, dependendo de sua localização.
PROPOSTAS
As terras do Cemitério 'Recanto da Paz', na Vila dos Bancários, teve as seguintes avaliações apresentadas com metragem de 24 mil metros quadrados:
Nas avaliações anexadas ao Projeto da Prefeitura, outro detalhe interessante e que merece atenção é que de uma avaliação para outra, os valores acrescem exatos 200 mil reais. Os valores, inclusive, também superestimados em média 5 vezes ao alqueire comercializado no bairro. Além disso, considerando a construção mais carneiras existentes, chegamos ao valor, inicialmente publicado nesta matéria, de R$ 4,7 milhões de reais.
Já a área aos fundos do cemitério, entre os bairros Maria Luiza I e Residencial Ibitinga 3, os valores que ofertam somente terra nua na medida de 19 mil metros quadrados são:
Na reunião que ocorreu na Câmara de Ibitinga há mais de um mês, foram expostas essas avaliações e que chamaram a atenção dos vereadores da ‘oposição’ pelos valores apresentados, e que estão aparentemente muito acima dos praticados pelo ramo imobiliário.
Além do valor que pretende-se pagar para qualquer um dos dois negócios, ainda há a necessidade de construir aproximadamente 1 mil carneiras para a projeção de avanço dos sepultamentos, o que gastaria em torno de R$ 3,6 milhões. Ou seja, em ambas as propostas o valor final tende a ficar ainda maior, algo em torno de R$ 7 milhões.
MAS, CADÊ O PROJETO ?
Diante de um assunto tão complexo e necessário, muita discussão, explanações e embates no entorno do tema que sequer chegou à Câmara para que faça os trâmites regimentais e ampla análise. Então, cadê o projeto de aquisição de um cemitério?
O Portal Ternura de Notícias, prezando sempre pela transparência da informação e conjuntamente ao painel “Cafezinho Amargo” acompanharão o passo a passo sobre este assunto, assim como foi feito com o projeto de reforma de uma escola da cidade, obra em torno de R$ 5 milhões de reais, que chegou na Câmara em regime de urgência especial (quando não há tempo de analisar, efetuar audiências públicas, solicitar avaliações) demonstrando que todo e qualquer proposta precisa ser aceita ‘na marra’ pelo Legislativo. Vamos acompanhar.
