12/11/2022 às 11h24min - Atualizada em 12/11/2022 às 11h24min

Do interior de SP a Angola: conheça a história de Simone Roncada, autora do livro ‘A Esmeralda de Cacuso’

​​​​​​​Obra é uma autobiografia dos anos que a escritora passou no país africano; Simone nasceu em Itápolis, mas cresceu e estudou em Ibitinga e Jaboticabal.

Portal Ternura
Escritora Simone Roncada durante lançamento do livro 'A Esmeralda de Cacuso' em Belo Horizonte. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Simone Roncada Chaves, 39, é uma escritora nascida na cidade de Itápolis (SP), mas que cresceu em Ibitinga (SP). Com 23 anos, a autora da autobiografia “A Esmeralda de Cacuso” alçou voos e saiu do interior de São Paulo diretamente para Angola.
Em entrevista ao Portal Ternura, a escritora contou um pouco de sua história e como chegou ao continente africano. Tudo foi registrado no livro, lançado em Belo Horizonte (MG) no dia 28 de outubro e que será lançado em Ibitinga na próxima semana.
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Infância na roça, curso na Unesp de Jaboticabal e fazenda no interior de SP

Simone quando criança em uma fazenda de Itápolis. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
A autora itapolitana contou que sempre morou em sítio quando criança e adolescente. Apesar der ter nascido em Itápolis, a família mudou-se para Ibitinga quando ela ainda era pequena, onde estudou durante toda a infância e adolescência.
Quando chegou à idade de escolher um curso, Simone optou por “Técnico em Agropecuária”, oferecido pelo campus de Jaboticabal (SP) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde estudou com uma turma na qual só tinha ela e apenas mais duas mulheres.
“Eu fui uma das primeiras meninas que se formou em uma época que se formavam cerca de 60 meninos por ano”, afirmou a fonte ao lembrar que a escolha da profissão impactou diretamente em enfrentar muitos obstáculos machistas durante toda a vida.
Aos 21 anos, Simone foi indicada pela Unesp para trabalhar em uma fazenda da região, mesmo a escola sendo informada de que deveria indicar um aluno do sexo masculino.
Ela concorreu à vaga de emprego com outros quatro homens e conseguiu passar por todas as seleções. Assim que começou a trabalhar na fazenda, a técnica em agropecuária pôde conhecer um projeto “muito nobre”.
Simone trabalhando com gado em uma fazenda do Brasil. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Exportação de gado para Angola e viagem ao país
A fazenda na qual Simone trabalhou pertencia a um grupo português que veio ao Brasil para exportar gado para Angola em uma tentativa de reconstruir a pecuária angolana, uma vez que o país havia passado por um período de Guerra Civil que começou em 1975 e terminou em 2002.
Na época, o grupo comprou algumas fazendas no Brasil e exportou três navios com zebuínos, a maioria da raça nelore, entre 2007 e 2008. Cada embarcação suportava cerca de 1.600 cabeças e os animais levavam aproximadamente 15 dias para chegar ao continente africano. O objetivo era vender carne com maior qualidade e menor preço para a população.
Também em 2008, a técnica em agropecuária recebeu um convite para ir a Angola. Isso aconteceu quando houve o primeiro leilão de zebuínos em Luanda, capital do país, após a Guerra Civil.
A autora não pensou duas vezes, pois o maior sonho dela, até então, “sempre foi trabalhar com animais de grande porte e dentro de um projeto que fizesse sentido”.
Sobre a viagem, Simone contou que se lembra de pegar o ônibus e descer na Rodoviária do Tietê, em São Paulo. Logo em seguida, ela foi ao aeroporto e pegou o avião direto para o continente africano.
Primeiras impressões, obstáculos e convivência com os animais
A autora relata que, ao chegar ao destino, se deparou com um país totalmente destruído, sem infraestrutura alguma e com pessoas traumatizadas. “Tudo era muito caro e a gente não encontrava nada”, relembrou durante a entrevista.
Cidade de Cacuso em 2008. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Além disso, novamente a técnica deparou-se com o machismo em seu caminho. “Angola era um país muito machista devido à Guerra”, comentou. A fonte também destacou que outro “obstáculo” a ser enfrentado foi que o fato de ser branca remetia ao passado da Colonização Portuguesa, dificultando as relações interpessoais no começo.
Ainda segundo a escritora, também havia outros problemas relacionados à fazenda em que ela ficou, como a infraestrutura, destacando que “a gente dormia em contêineres e não tinha energia elétrica. A energia era gerada por geradores que desligavam à meia-noite e todo mundo ficava na escuridão”.
Outra problemática enfrentada foi em relação à distância da fazenda para Luanda. Eram cerca de 400 km e para chegar até lá as pessoas demoravam cerca de 9 horas na estrada. “A possibilidade de perder a vida era real”, pontuou.
Padaria em Cacuso. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Salão de beleza em Cacuso. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Sobre a questão da saúde, a entrevistada também disse que não foi fácil. Ela teve nove malárias e quatorze febre tifoides devido à má higienização dos alimentos.
No entanto, apesar de todas as dificuldades, Simone permaneceu no país por 3 anos. E parte do “combustível” para viver por lá veio dos animais. “Eu conversava com os animais nos dias tristes e que eu me sentia mais sozinha. Ali, eles eram os meus amigos”, reforçou emocionada.
A escritora sempre teve uma ligação muito forte com os animais. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

A técnica em agropecuária em uma fazenda de Angola. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
“Não posso deixar de agradecer, também, aos angolanos que me ensinaram a ser forte, a viver um dia de cada vez, que nada dura para sempre e que tudo passa”, complementou a autora. Com os decorrer dos dias, de acordo com ela, os desafios até viraram um “vício de superação”.
Durante a entrevista, a escritora relembrou, inclusive, que se não fosse pelos animais, ela sequer teria ido para Angola, onde viveu experiências únicas que hoje pode compartilhar por meio do livro, e se não fosse pelo apoio dos angolanos, não teria conseguido encarar tudo da maneira que encarou.
Apesar das dificuldades, Simone também encontrou amor em Angola. Ela e o marido, Silvo, estão casados há 11 anos. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Mas... O que é Cacuso? E por que a esmeralda é de lá?
Se você chegou até aqui, deve estar perguntando “tá, mas o que é Cacuso? E qual a relação com a história?”. A escritora explicou à redação do Portal Ternura que Cacuso é a cidade angolana mais próxima à fazenda na qual ela morou por alguns meses.
Logo em seguida, talvez a segunda dúvida mais recorrente seja “então, por que esmeralda?”. Simone respondeu entusiasmada, explicando que “o nome veio porque os meus olhos são verdes, então, no caso, a esmeralda sou eu”.
“O livro é uma autobiografia dos anos que eu vivi em Angola. Ele conta a história da Simone, a primeira mulher que foi trabalhar com zebuínos na Angola pós-guerra, e tudo o que ela viu, o que ela sentiu”, destacou.
Um dos objetivos da obra é mostrar a grandiosidade da África, que não é um país, mas um continente que tem 54 países, e a força dos africanos. “Eu tento mostrar o lado positivo porque chegam coisas muito negativas aqui no Brasil sobre o continente africano. A mídia expõe muito em cima disso”, explica a autora.
Simone ainda diz que escreveu o livro “de um jeito que, se a pessoa nunca foi à África, ela vai conseguir sentir como é, sentir cheiro, o coração disparando, a cor do céu, a alegria das pessoas e a tristeza também”, complementando que a obra “fala de coisas muito sérias de um jeito muito leve”.
Aldeia angolana. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Simone com crianças de uma aldeia angolana. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
 
Realização de sonhos
O outro objetivo do livro é mostrar para as pessoas que realizar sonhos não é fácil, mas não é impossível. Simone disse que quando ela foi para Angola, ela foi uma das funcionárias do grupo mais desacreditadas, principalmente por ser mulher. “Ninguém acreditava que eu fosse durar muitos dias”, desabafou.
Com o passar do tempo, a situação foi mudando. A escritora conquistou a confiança e o respeito dos trabalhadores da fazenda. Quando estava se preparando para voltar ao Brasil, um dos líderes de uma das aldeias que ficam em volta da fazenda disse que ela não podia ir embora porque era a “grande mãe” daquele lugar. “Em Angola, ser chamada de ‘mãe’ é um dos maiores elogios que uma mulher pode receber”, explicou novamente entusiasmada.
Simone trabalhando em Angola. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
A autora também destacou que não fez a viagem pensando em registrá-la em um livro, “mas as pessoas diziam que era uma experiência muito diferente do que estavam acostumadas e que, de certa forma, escrever um livro seria a inspiração para as pessoas correrem atrás de realizar os seus próprios sonhos”.
Afinal de contas, como a própria escritora narra na obra, é a história de uma menina que saiu do interior de SP e foi para Angola. “Eu deixei de ser a mais desacreditada do grupo e saí da fazenda com um dos líderes me chamando de mãe e dizendo que eu faria muita falta por lá”, reforçou.
Lançamento e divulgação
Atualmente, Simone Roncada vive em Belo Horizonte. O lançamento, como escrito no começo da matéria, aconteceu na cidade no dia 28 de outubro. No dia 03 de novembro, a obra foi lançada na Feira Literária de Tiradentes (SP). Agora, dentro dos próximos dias, o lançamento será realizado em Ibitinga.
Simone durante lançamento do livro na Feira Literária de Tiradentes. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Ao ser indagada, a autora respondeu que escolheu a cidade porque é o lugar onde os pais ainda moram e porque ela criou raízes na Capital Nacional do Bordado. “Além disso, eu acho importante mostrar aonde uma menina que morava no sítio conseguiu chegar”, destacou.
Os interessados em adquirir o livro “A Esmeralda de Cacuso” podem procura-lo nas lojas online da Amazon e da Leitura. No momento, apenas a versão física está disponível, mas já existem planos para disponibilizar a digital em breve.
Para ficar por dentro de novidades e da história de Simone Roncada, você também pode seguir a escritora no Instagram. Procure por @simoneroncada ou clique aqui.
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