24/10/2022 às 14h22min - Atualizada em 24/10/2022 às 14h22min

Acidente? Suicídio? Caso Kaique terá desdobramentos com laudo pericial

Laudo pericial da morte do jovem de 24 anos, que atuava como guarda civil municipal em Ibitinga, pode demorar até 30 dias para ser concluído; investigações da Polícia Civil se darão a partir do resultado.

Portal Ternura
Kaique Lopes, de 24 anos, foi encontrado sem vida no final da tarde do último sábado (22). Foto: Divulgação/Redes sociais
 
Ibitinga (SP) ficou tomada por um sentimento de tristeza neste final de semana após a morte de Kaique Gabriel Pilhalarme Lopes, um jovem de 24 anos que atuava na Guarda Civil Municipal (GCM) da cidade, na tarde do último sábado (22), no Jardim Natália.
Kaique entrou na GCM e permaneceu como aluno por 2 anos. Após passar em um Concurso Público, começou a atuar neste ano de 2022 junto aos demais guardas.
No Cafezinho Amargo desta segunda-feira (24), o jornalista Robson de Rosa prestou uma homenagem ao jovem e aos pais dele, Jorge Lopes e Marijane Cristina Palhalarme. Nas palavras do jornalista “em todos esses anos atuando com jornalismo policial, acredito que a história esteja mal contada e tenha algo para ser investigado”.
Contradições que envolvem o Caso Kaique

Pai de Kaique acredita que filho não cometeu suicídio. Foto: Divulgação/Redes sociais
 
A GCM registrou o boletim de ocorrência como suicídio, mesmo sem o laudo da Perícia Técnica, que segue investigando o caso.
Isso interessaria exclusivamente à Prefeitura de Ibitinga é à alta cúpula da Administração Pública. À Prefeitura pois, se constatada a morte por acidente ou por algum crime que não seja suicídio, ela terá que arcar com a indenização à família; ao alto escalão porque são os responsáveis direitos pela GCM e poderão sofrer ações cíveis e criminais sobre o caso.
Neste domingo (30), o pai de Kaique conversou com a jornalista Daniela Branco de Rosa e se mostrou indignado com toda a “Invenção de que o Kaique tinha ou estava com depressão. Ele era a Luz da nossa Família... nossa vida... aquele que trazia alegria para nossa casa, para nossa família. Sempre alegre e de bem com a vida. Estava Feliz”, conforme pontuou.
O pai relata ainda que Kaique não teria como ter cometido um ato de suicídio: “...antes de ele ir trabalhar, estávamos vendo uma outro moto, maior para ele comprar. Ele estava tão bem em todos os sentidos, não tem como ter feito algo assim, ele falava tudo comigo, eu não consigo entender, por favor me ajude a achar respostas”.
O pai revela ainda que “... Kaique estava bravo com as autoridades municipais e havia mandado mensagens para vários mandatários do Poder Público sobre a insatisfação dele e dos demais jovens de estarem sendo desprestigiados na função, sendo colocados em trabalhos noturnos e recorrentes, diferentemente de outros guardas e colegas de trabalho”. No Velório, a mãe Marijane repudiava com gritos e lagrimas a presença dos Chefes de Kaique, não querendo a presença dos mesmos no local.
Nossa reportagem apurou que a história do suicídio veio de dentro da Prefeitura, por meio da Guarda Civil Municipal em seu primeiro depoimento controverso à Policia Militar (PM). A GCM relatou que tratava-se de um suicídio com disparo de arma de fogo. Informaram, ainda, que era para Kaique assumir o posto fixo da Escola CIEI, no Jardim Natália, às 18h, porém, tinha que passar na Base da Guarda para pegar as chaves da unidade escolar.
Como Kaique não apareceu, foram verificar o que havia acontecido. Chegando ao local, encontraram o Ford KA e, dentro do veículo, o jovem com um disparo de arma de fogo na boca.
Mais tarde, com a chegada da Polícia Cientifica de Araraquara (SP) para realizar a Perícia Técnica, os relatos da Guarda Municipal mudaram sobre o caso, com contradições:
Diz o Boletim de Ocorrência, que quando a Policia Militar chegou ao local, o GM Pedro Fábio Placido relatou ser responsável pela Guarda Municipal, e que ao rondar o Posto Fixo (já desaparece a primeira versão de que Kaique teria que passar no Base para pegar as chaves e ir para o CIEI), encontrou o veículo estacionado regularmente e, dentro do carro, estava o jovem já sem vida.
Nossa reportagem apurou que esta história de que Kaique teria que passar na Base da GM não confere. Na verdade, ele iria render outro guarda no local e, portanto, não tinha que passar na Base. Fato é que este Guarda Municipal acabou faltando do trabalho, não foi à Escola e as chaves encontravam-se na Base.
Nossa reportagem apurou, também, que Kaique foi encontrado no banco traseiro do Ford KA e que o carro da vítima encontrava-se ligado.
Jornalistas procurados
Na noite de sábado, o Secretário de Comunicação da Prefeitura de Ibitinga realizou ligações recorrentes à jornalista Daniela Branco de Rosa. As mesmas não foram atendidas pois a profissional estava em uma viagem com o celular no modo silencioso.
Mais tarde, descobriu-se que as chamadas tinham o intuito para saber o que o Portal Ternura iria divulgar sobre o caso do suicídio. Como faz de praxe, inicialmente, o jornal apenas fez a divulgação do registro de óbito, sem detalhes.
O QUE DIZ O BOLETIM DA POLÍCIA
A Polícia Cientifica de Araraquara foi acionada pela Polícia Civil de Ibitinga e esteve no local para a Perícia Técnica. No boletim, no entanto, nada se fala de suicídio; ao contrário, depois de diversos exames, fotos e análises, foi concluído que Kaique tinha uma perfuração da entrada na região superior direita da cabeça e a saída do projetil na lateral superior da cabeça.
O resultado do laudo deve sair em 30 dias. Portanto, nada conclusivo sobre o caso até o momento. A Polícia Cientifica recolheu também um estojo com 17 balas intactas e um deflagrada de uma arma Taurus de 9 milimetros em aparente pane de alimentação.
MAS O QUE SIGINIFCA PANE DE ALIMENTAÇÃO?

Arma Taurus. Imagem: Divulgação
Valor de uma arma Taurus. Imagem: Divulgação
 
Conforme pesquisado pela equipe do Portal Ternura, uma arma de mesmo modelo à encontrada possui uma reclamação no site “Reclame Aqui”. Leia abaixo:
“Bom dia,
Adquiri uma G2C 9mm há uns 3 meses e nas duas únicas vezes que usei em treino, apresentou pane ao inserir a munição na rampa.
Ao fazer o ciclo, parou semi aberta. Acredito ser problema do equipamento. Em ambos os casos usei munição CBC NTA. Qual o procedimento para levar o equipamento a uma assistência técnica de vocês?
Agradeço antecipadamente.”
Em contato com policiais da da Policia Civil e Militar, nossa equipe também apurou que quando se fala em Pane de Alimentação, e isso já foi até matéria do Fantástico da Rede Globo, inclusive com Taurus 9 mm, significa que pode ser um erro de disparo, ou seja, um disparo que não era para ter acontecido, seja pela  falta de experiência em manuseio da arma (erro humano), por defeito da própria arma (fato que a fabricante nega que a Taurus tenha esse defeito). E se na perícia já está descrito o termo:  APARENTE PANE DE ALIMENTAÇÃO, isso pode ou deve significar que não foi suicídio.
Além disso, o pai do jovem alega que ele tinha experiência com armas e que frequentava semanalmente Clubes de Tiro em Itápolis (SP) e Borborema (SP).
Outra questão a ser esclarecida:
Esta arma Taurus de 9 milimetros foi entregue ao Kaique pela Prefeitura ou não?
O Pai relata que a arma era do próprio jovem, que tinha salvo conduta para isso.
O que diz a lei da GCM de Ibitinga:
No Capítulo 14 da Lei Complementar de número 179, de 28 de dezembro de 2018, sobre a Guarda Municipal, versa o seguinte: PARA AQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTOS, VIATURAS E ARMAMENTOS, O MUNICÍPIO PODERÁ CELEBRAR CONVÊNIOS COM EMPRESAS CREDENCIADAS OU COM OUTROS ORGÃOS ESTADUAIS OU FEDERAIS.
Lei Complementar nº 179 de 28 de dezembro de 2018. Foto: Portal Ternura
Capítulo XIV da Lei Complementar supracitada. Foto: Portal Ternura
 
Ou seja, a Prefeitura é quem compra os uniformes, os adereços, equipamentos e as armas para a GCM e dá em cessão para os funcionários utilizá-las em serviço.
Há relatos, entretanto, de que essas armas foram compradas pelos próprios alunos, motivados pelos chefes da Secretária de Segurança Pública Municipal, com aval do Secretário de Administração da Prefeitura.
Eles teriam ido até a cidade de Itápolis, em um profissional da área que faz o processo da Posse ou Porte de Arma, porém, acharam caro o valor solicitado e foram embora. O valor solicitado para esse tipo de serviço fica em torno de R$1 mil a R$1,3 mil referentes a documentos e exames. Sobre as armas, os relatos apontam que as mesmas foram adquiridas também em Itápolis pelo valor de R$4  R$5 mil.
A possível conclusão é a seguinte:  se isso aconteceu, a arma não deve ser nova, pois o preço seria de mais de R$6 mil.  Segundo: não parece ser o caso de Kaique, pois o mesmo tinha uma família financeiramente estável, mas será que entre esses jovens alunos da GCM, todos tinham dinheiro para comprar essa arma, ou isso foi financiado por alguém, uma vez que acharam caro o serviço do despachante que era bem menor do que esse valor?
Ninguém da Prefeitura esclareceu de quem era a arma até o momento. O pai de Kaique disse que era dele e que na sexta-feira (21), inclusive, o jovem havia chegado em sua casa um novo coldre que ele tinha comprado.
Outra indagação que fica é: os jovens Guardas Municipais estão trabalhando com armas próprias ou da Prefeitura? Se estiverem trabalhando com arma própria isso é ilegal. O policial ou o guarda tem que trabalhar com arma da corporação.
E se a Prefeitura cedeu a arma como manda a lei, de quem comprou, onde comprou e se eram armas usadas ou não? A Secretaria de Administração não se pronunciou a respeito. A Secretaria de Segurança do Município também não. Apenas postagens de consternação pelo fato foram publicadas.
Após tomar conhecimento de que os pais têm a certeza de que não foi suicídio, e da mãe revoltada com os chefes do seu filhos, a Prefeitura convocou imediatamente para a manhã desta segunda-feira (24) uma reunião com todos os guardas para alinhar a “história a ser narrada por todos”. Porém, a reunião vazou e chegou até a reportagem do Portal Ternura
Fonte revelou ao Portal Ternura que a reunião com os guardas municipais aconteceria neste segunda-feira. Imagem: Portal Ternura
 
Você vai se lembrar que essa é uma tática utilizada pela atual administração. No Caso do Caminhão Munck foi a mesma coisa. Eles convocaram uma reunião entre Secretários e Diretores para falarem todos a mesma coisa e se alguém fugisse à regra, seria demitido. Chegaram, inclusive, a colocar o Bochecha, braço direito do Secretário Feitosa, na entrada da sala de reuniões para, se possível, tomar o celular dos diretores e secretários à força para ver quem havia repassado a reunião à Imprensa.
O relato de que Kaique estava em depressão também incorre em erro grave da Guarda Municipal.
A Lei Complementar de número 179 de 28 de dezembro de 2018, versa no Capitulo 11, parágrafo segundo que “Se o guarda civil for proibido de exercer a função por alguma restrição médica ou psicológica, poderá trabalhar em outras atividades, obedecendo as restrições recebidas”
Diz ainda o parágrafo 7 que: “cabe ao GCM Classe Especial, a função de acompanhar a sua equipe, nas suas atitudes dentro da corporação, acompanhar as ocorrências, a rotina dos guardas...”. Ou seja, cabe ao superior ter conhecimento do estado físico, mental de cada subordinado. Se ele estava com depressão, e se várias pessoas sabiam disso, o responsável também deveria saber e tomar as devidas providências.
E ainda ficam as perguntas:
Onde fizeram o curso que homologou a condição de Guarda Municipal? Quem deu o laudo de exame psicotécnico? Por qual empresa? Essa empresa é ou não credenciada para tal? Onde foram comprados os uniformes, spray pimentas, armas e qual valor foi pago por isso? Qual foi a empresa que ganhou a licitação?
Outro assunto: SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública – Além disso, a lei diz que é obrigatório a Prefeitura no exercício das atribuições da Guarda Civil Municipal, exigir a capacitação especifica de acordo com normas da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP). Algumas fontes disseram à reportagem que a Prefeitura mesmo realizou os cursos no Almoxarifado. A Prefeitura tem capacidade técnica e habilitação em realização de cursos de Segurança?
A Reportagem também ouviu de fontes que os alunos foram fazer um curso de uma semana em outra cidade.  Mas é possível habilitar um profissional de segurança em apenas uma semana? Dá tempo de aprender a manusear com segurança uma arma, a aprender a ter o fator psicológico para enfrentar a violência e o vandalismo? Se em uma semana aprende isso, porque existem as Escolas do Barro Branco e outras, onde os policiais ficam por anos?
O Portal Ternura também ouviu relatos de muitas desavenças internas entre os Guardas Municipais, principalmente no fim de turno. Tais denúncias apontam que existem muitos conflitos individuais e que muitas vezes chegam a assustar os colegas, com ameaças realizadas com armas de fogo na cintura.
O Portal Ternura continuará acompanhando o caso e trazendo os desdobramentos conforme forem acontecendo. No momento, toda a equipe do Grupo Roque de Rosa de Comunicação se solidariza com a família de Kaique, que perdeu um filho, que teve a vida desestruturada e que ainda tem que suportar tudo isso.
 
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://portalternura.com.br/.